A ruptura da cadeia do frio é uma das principais causas de perda de alimentos, fármacos e flores no Brasil. O retorno do país para o mapa da fome e o reaparecimento de doenças erradicadas, reafirmam a necessidade que toda a cadeia produtiva respeite as melhores práticas no transporte e preservação de produtos sensíveis, para evitar desperdícios.

Os números mostram que no Brasil, possuímos um alto índice de desperdício. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação (FAO), 26,3 milhões de toneladas são desperdiçados por ano no Brasil, quantidade suficiente para alimentar 16,3 milhões de pessoas. 10% da perda total acontecem durante o transporte.

Outros mercados que também enfrentam perdas significativas pela falta de planejamento no transporte são o de vacinas e flores. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que 50% das vacinas quando chegam ao destino estão de alguma forma deterioradas, por conta da falha no controle de temperatura. Já a Universidade Federal de Santa Maria, mostra que cerca de 40% das flores que são cultivadas são perdidas por conta das condições inapropriadas de manuseio, na conservação e transporte.

“Vivemos em um país com abundância de recursos naturais e de alimentos, mas ainda há muita gente que passa fome e sofre com a alta perda de medicamentos. Os cuidados com a manutenção da temperatura são essenciais para garantir que produtos de qualidade cheguem até a população.

De acordo com as diretrizes da cadeia do frio, o transporte de itens que exigem refrigeração deve ser feito por equipamentos capazes de manter a temperatura adequada de cada produto, além de cuidados com a higiene, controle de abertura de portas e todo o trâmite deve ser realizado por pessoas capacitadas em cada uma das etapas.

Gerenciamento da Distribuição e preservação de produtos sensíveis

O gerenciamento da distribuição de alimentos perecíveis é complexo. Alimentos perecíveis são sensíveis à deterioração biológica, física ou química, e por isso, exigem mais da área logística. Se os alimentos não forem devidamente acondicionados, estocados, transportados e entregues, podem ter suas qualidades prejudicadas a até se tornarem impróprio para o consumo. As embalagens usadas para a preservação de produtos sensíveis são classificadas conforme abaixo e tem diversas finalidades:

  • Primária: onde o alimento é acondicionado, normalmente é oferecido ao consumidor final pelo varejo;
  • Secundária: bandeja ou filme envolvendo a embalagem primária para torná-la mais resistente e segura;
  • Terciária: recipientes que possibilitam um melhor manuseio da carga e unem as embalagens secundárias;
  • Quaternária: paletes/contentores para o momento do transporte, tornando a movimentação da carga mais prática e segura;
  • Quinária: voltada para o transporte por meio de contêineres refrigerados ou isotérmicos, entre outros.

Monitoramento de temperatura para preservação de produtos sensíveis

Acompanhar a temperatura de maneira controlada é uma estratégia para manter a segurança alimentar. O controle ajuda também a evitar perdas causadas pelas mudanças de temperatura, caso fujam da margem esperada para a conservação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os integrantes da cadeia produtiva são responsáveis pela segurança dos alimentos. Por isso, eles precisam impedir a deterioração dos itens nos processos de estocagem e transporte.

É necessário que os responsáveis pelo armazenamento conheçam a fundo as particularidades de cada mercadoria. Além disso, é necessário que se adequem ao que for necessário e fiquem bem atentos durante todo o tempo que os mesmos permanecem estocados. Nesse processo é de extrema importância manter a preservação de produtos sensíveis.

Fatores que devem ser considerados para armazenagem segura

  • Recebimento e expedição: devem ser avaliadas as instalações físicas, pois estas áreas estão sujeitas a contaminação externa;
  • Estocagem:  considerar os aspectos relacionados à preservação dos produtos;
  • Equipamentos movimentação e armazenagem de materiais: devem ser especificados de forma a racionalizar os aspectos logísticos (densidade, acessibilidade, freqüência e custos) e os relativos à preservação do produto (temperatura, contaminação, ventilação, etc);
  • Seqüência de entradas e saídas: como o tempo é um fator agravante para as condições de preservação, devem ser tomadas precauções para que os produtos fiquem o menor tempo estocados e utilizados os conceitos de PEPS (primeiro que entra é o primeiro que sai) ou o PVPS (primeiro que vence a validade é o primeiro que sai);
  • Picking (separação de produtos para formação do pedido):  esta também é uma área sensível, portanto deverá ficar segregada do estoque, tanto para otimizar as atividades logísticas quanto para garantir a preservação dos produtos.

Preservação de produtos sensíveis durante o transporte

A fase mais vulnerável é o transporte, pois depende de terceiros e os mesmos devem conhecer bem as normas e regulamentos a serem seguidos preservação de produtos sensíveis. Principalmente para longas distâncias é necessário o transporte intermodal, o qual depende de operações de transbordo, principalmente em contêineres quando se trata de preservação de produtos sensíveis. No caso de cargas resfriadas ou refrigeradas, as condições térmicas nas carroçarias são semelhantes às dos contêineres.

Temperatura e logística para a preservação de produtos sensíveis

Para uma adequada logística de distribuição e preservação de produtos sensíveis é necessário respeitar todas as atividades, desde entender as restrições e condições para preservação, desenvolver a embalagem para atender todas as funções, armazenar e transportar adequadamente.

Diversos itens podem ser classificados como sensíveis por conta da temperatura e umidade, como: 

  • Alimentos;
  • Produtos medicinais;
  • Cosméticos;
  • Películas fotográficas e de filmes;
  • Obras de arte e produtos relacionados ao patrimônio cultural;
  • Flores;
  • Produtos químicos.

Os cosméticos normalmente toleram temperaturas mais altas do que alimentos ou produtos medicinais. Batom, por exemplo, amolecem a 37°C, mas a uma temperatura de 40°C, há riscos decorrentes da perda das propriedades químicas e qualitativas, incluindo aparecimento de fungos.

A participação econômica de flores aumentou a preocupação no comércio mundial de bens perecíveis. Rosas, por exemplo, são delicadas e sensíveis a variações de temperatura. Qualquer flutuação térmica pode causar danos e reduzir a vida útil de vaso.

Para o estudo da cadeia do frio da indústria de alimentos, podem-se classificar os produtos como resfriados ou congelados. Os produtos resfriados são conservados a temperaturas entre 0 ºC e 2 ºC e congelados entre -18 ºC e -25 ºC. Utilizam a seguinte categorização para identificar os níveis de resfriamento de produtos:

  • Resfriamento pleno: entre 0 ºC e 1 ºC para carne bovina fresca e carne de frango, insumos cárneos, a maioria dos vegetais e algumas frutas;
  • Congelados: -25 ºC para sorvetes e -18 ºC para outros produtos alimentícios e ingredientes;
  • Resfriamento mediano: 5 ºC – produtos pastosos e a maioria dos derivados do leite (queijos e manteigas);
  • Resfriamento exótico/climatização: entre 10 ºC e 15 ºC, para batata, ovos, frutas exóticas e bananas.

Cadeia de suprimentos farmacêutica

A cadeia de suprimentos farmacêutica possui inúmeros regulamentos editados por órgãos respeitados no mundo inteiro e que convenciona as atividades de manuseio, armazenagem, embalagem, rotulagem, transporte, distribuição e preservação de produtos sensíveis a temperatura.

Dos produtos farmacêuticos, aqueles de natureza biológica são sensíveis à temperatura. Porém, os biofarmacêuticos tem crescido, ampliando a importância da cadeia do frio em relação a cadeia de suprimentos nesse segmento.

Diretrizes e estudos de agências reguladoras e normativas como as norte-americanas FDA – Food and Drug Administration e USP – United States Pharmacopeia passaram a ser adotados como referência para padronização de procedimentos, motivados e patrocinados pelos principais laboratórios multinacionais presentes em todos os continentes.

Essas diretrizes comandam a forma de estocar, manusear, transportar, embalar, remover, movimentar, embarcar e distribuir produtos farmacêuticos, sensíveis à temperatura. Além do pacote regulatório, a gestão da cadeia do frio farmacêutica concentra esforços na gestão da qualidade, avaliação de fatores de risco e monitoramento da temperatura.

A fiscalização em efeito cascata é uma prática comum no segmento farmacêutico, através de qualificação de fornecedores e auditorias presenciais de todo sistema de gestão da qualidade, onde através de processos e POPs todos os envolvidos na cadeia se comprometem em seguir as normas vigentes. Desta forma a Cadeia do Frio vai ficando cada vez mais robusta e confiável.